terça-feira, 25 de março de 2008

Galo: 100 anos de paixão



Chiquinho de Assis

Como não falar das paixões. E se falando em futebol, a minha é inequívoca. Gaaaalo!!!! Nem há necessidade em se falar o nome completo, somos tão íntimos que o apelido soa mais sincero do que qualquer formalidade. Galo! É assim que nos conhecem. As pessoas até nos confundem e perguntam “você é galo?”.

Pois é, foi num dia 25 de Março de 1908 que um grupo de 22 garotos, com idade girando em torno dos 13 anos, se reuniram no coreto do Parque Municipal de Belo Horizonte para criarem o "Glorioso". Mas essa história é realmente interessante. 25 do 03 de 1908, 22 garotos com idade média de 13 anos. Esses números podem dizer muita coisa. Vejam só:

2+5=7, 1+9+0+8=18, 18–7=11. Ou seja, o time já estava em campo.

Mas quantos garotos foram? 22, coincidência demais, 2 times para os treinamentos.

Idade média? 13 anos. Ou seja, regidos pelo número do Galo, na jogatina do bicho. Rsrsrsrs.

Mas na nossa anedota numeral faltou o 3, referente ao mês. Tchan, tchan, tchan... Quantas letras têm a sigla do time? CAM, resolvido. Como disse o Dadá Maravilha: “Não venham com a problemática que eu tenho a solucionática”.

E a partir desta data a paixão aflorou, logo veio a fanática torcida. E para a massa, o título e as vitórias são um complemento do êxtase de se vestir a gloriosa camisa, de gritar Gaaaaaalô... Lá estamos, sempre fiéis, sempre em coro, 44 minutos do segundo tempo e ainda acreditamos. Acreditamos no que muitos simpatizantes duvidam. Mas, no nosso caso, temos por onde. Ora, o nosso hino diz “uma vez até morrer”, como a esperança é a última que morre, a nossa torcida transcende a esperança.

Poderia aqui fazer, como muitos fazem, e começar a projetar a simpatia pelo clube numa calculadora que não para de pensar em títulos, participação em torneios, etc. Mas não. Pouco importa se o Galo foi o primeiro Campeão Mineiro, se foi o primeiro Campeão dos Campeões Brasileiros em 1937, se em 1950 foi o primeiro time brasileiro a excursionar pela Europa e voltando como Campeão do Gelo, se tem o título de 1971. Não, pouco importa. Não importa se somos um dos times mais garfados do país, se já fomos vice-campeões invictos, etc. Ah, o que importa é a relação da massa com o galo, o que importa é ensinar ao mundo a fidelidade nos momentos difíceis e a classe invejável na redenção. O que importa é saber que a nossa história é de dor e alegria, um drama de “90 minutos mais acréscimos”, em equilíbrio com a tragédia perfeita, onde o “Mineirão” se torna o Teatro de Epidauro da Grécia, e nós, torcedores apaixonados, nos assemelhamos há um coro grego que julga os feitos dos nossos heróis em campo. Heróis que se antropomorfizam no mito: galo. Guerreiro, de canto profundo, de esporas afiadas e que sabe voar visando o ataque, a vitória sobre a vítima. E por falar em vítima, que não fique triste o rival, ele ainda chegará ao centenário – o bem não vive sem o mal. Mas não nos custa lembrá-lo que a diferença de idade, 100 a 87, já aponta uma vitória histórica cuja subtração é uma feliz coincidência em forma de galo – 13.

Parabéns Galo, 100 vezes aqui renovo a minha história com essa camisa, que como bem disse, o saudoso atleticano, Roberto Drummond “Se houver uma camisa branca e preta pendurada no varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento”.

Gaaaalô, fiu fiu fiu / Gaaaalô, fiu fiu fiu / Gaaaalô, fiu fiu fiu / Gaaaalô fiu fiu fiu / fiu...

segunda-feira, 17 de março de 2008

Atenção: Trânsito, Pontes, Ruas, ...


*Foto: Chiquinho de Assis


“Lá vem o Brasil descendo a ladeira [...]”

Ah Ouro Preto, que tristeza...

Pois foi assim. A luta diária da D. Ivone – mulher do Antônio, filho do seu Zé Pobre, lá do São Cristóvão – como acabou? Numa parede da Rua das Flores, com o povo ali, vendo uma pobre senhora, mãe, vítima, agonizando em busca de socorro. Um socorro agonizante que Ouro Preto também pede, grita, chora, e além de tudo, tendo que conviver com essas acidentais desgraças pressagiadas há anos e anos. E mais uma vez a cidade se solidariza, chora, se comove, se indigna, mas e depois? Aberto o sinal, uns e outros com mais outros começam a correr, deslizar, bater e arrombar. Paredes, portas, janelas, trilhos, ruas, ladrilhos, passeios, ruas e escadinhas.

Dias contados? Que medo!!! Que Urucubaca!!!

Há poucos anos um recado foi dado, a capela-passo de Antônio Dias quase se foi na trombada de um ônibus. Como se fosse moda, o chafariz do Pilar por pouco não foi embora na carroceria de um caminhão, e olha que caminhões insistiram. Recentemente, numa mesma semana, três fatos deixaram a cidade preocupada. Na rua da Escadinha um Scort deslizou indo parar nas escadinhas, parte da rua destinada aos pedestres. Num outro dia um caminhão de alimentos desce, sem controle, pela Rua das Flores deixando vítimas, uma fatal. Ainda atordoados com tais acontecimentos, moradores da Rua do Jibu, como que num filme alienígena, puderam ver carros voando e adentrando parede pau-a-pique na calada da noite. Meu Deus, três avisos em sincronia com o que todos nós sabemos. E como dizem os antigos “o pior cego é aquele que não quer enxergar”. E por falar em enxergar, reflitamos...

A conturbada situação a que foram submetidos os moradores da região de Santa Rita, Chapada, Salto, Lavras Novas, e arredores da Estrada Real não serviu de aviso aos gestores do trânsito urbano do município. Por que? Ora, se as pontes seculares da Estrada Real foram interditadas ao trânsito de ônibus e caminhões por risco de desabamento, não é evidente que a Ponte Seca, também secular, corre o mesmo risco? Irá suportar, a referida Ponte, o trânsito cotidiano dos ônibus lotação da cidade? Outro dia, andando lá pelas bandas do Pilar escutei dois senhores, aqui chamados de Jão e Tonin, conversando:

Tonin: – Ô Jão, assim não dá. Vê só esses ônibus passando dessa forma aqui nessa ponte. O negócio foi reformado outro dia, mas a estrutura não vai agüentar, vai cair Jão.

Jão: – Ah, mas é trânsito experimental sô, você não vê a Ponte do Antônio Dias, a Ponte da Rua São José, nelas todas passam ônibus, e elas caíram? Caíram não, sô.

Tonin: – É mesmo Jão. Você tem razão, inclusive na Ponte da Rua São José vai até começar a passar gente lá embaixo com essa história do Horto Botânico.

Jão: É sô. O trem é seguro mesmo!

Tonin: – Mas e nós que caminhamos aqui pela Conselheiro Santana? Agora vamos ter que nos espremer nos muros e passeios pros ônibus passarem?

Jão: – Calma Jão,

Tonin: Parece até que eles estão experimentando se a ponte ficou boa e se o casario do Pilar é resistente!

Jão: – Mas é em fase experimental, Tonin.

Tonin: – Experimental? Brincadeira, né não? Ouro Preto, dizem que é cidade tombada, agora também é experimental? Não posso crer.

Jão: – Mas é pra ajudar Tonin, é um momento experimental, sô...

Tonin: – Ô Jão, acabou que a gente está aqui conversando e eu não estou entendendo é nada.

Jão: – Calma Tonin.

Tonin: – Calma? Depois dessa conversa, eu tô é com vontade de levantar um muro experimental aqui em casa. E sem consultar ninguém. Só pra não ter que ficar assistindo essas lambanças. Pra não ter que ver as pessoas inventando esses trem de “gestão experimental”.

Jão: – Calma sô!

Tonin: – Mas o que você acha do muro?

Jão: – Você é doido Tonin?

Tonin: – Como assim?

Jão: – Você acha que é assim?

Tonin: – Como?

Jão: – Você não pode fazer assim não, meu filho! Você tem que pedir licença. Chamar um profissional pra fazer um projeto, aprovar o projeto da obra. Uai!

Jão: – É, Tonin?

Tonin: É sô. O que você está pensando? A cidade é tombada, mas isso não significa que a cidade tem que tombar, a casa tem que tombar, o caminhão tem tombar, não é não?

Jão: – Será?

Ecos que podem parecer fantasiosos, mas que sobrevoam a cabeça do ouro-pretano que, atordoado, quer ver a sua cidade bem, pois a ama e em vários momentos se vê sem saber o que fazer com as mudanças legais que saem daqui, dali d’acolá. Será que não seria o momento de investirmos numa educação patrimonial que entenda Ouro Preto como uma cidade repleta de particularidades, mas viva? O patrimônio também está nas pessoas do lugar, na sabedoria de um povo que aqui vive e que quer, a todo o tempo, se sentir inserido em um processo transparente e participativo. Participativo não só no que diz respeito ao “cumpra-se”, mas ao “pensemos”, “façamos”, e “zelemos” juntos.

Voltando a um ditado antigo: “Enquanto tem platéia, tem palhaço”. Viva a grande sabedoria mineira. A mineiridade, a prudência pra fazer e a coragem de falar, mesmo que nas entrelinhas. Esta é a nossa “via”. A via do “por sentido no atento”.