No ano em
que celebramos os 150 anos
do Zé Pereira, a agremiação mais antiga do país em atividade, o
boneco e seus tambores voltam às ruas trazendo o encanto, a beleza, os sonhos
daqueles que não desistem nunca de brincar.
Ao
perceber as portas da Rua Santa Efigênia se abrirem, dezenas de meninos e
meninas já sabem:
- Hoje
tem Zé Pereira? Tem sim senhor.
As
famílias correm ao Largo de Marília, os meninos e suas latas velhas tocam o som
estampido na memória. Começam a se desdobrar movimentos inspirados no
velho Zé.
- Que
Bloco é esse? Pergunta o turista aprendiz.
- Bloco
não meu senhor – responde um senhor da janela - é o Club dos Lacaios…
Isso
mesmo Club, numa influencia talvez dos Clubs da segunda metade do século XIX
que apareciam para ser local de encontros das famílias abastadas dos Estados
Unidos e da Europa.
Mas foi
às avessas desse ambiente que os funcionários rasos do Palácio do Governador se
organizaram, ou melhor, se ressignificaram para celebrar o carnaval. Uma ressignificação
dos Lacaios.
Daí se
passaram anos, décadas, jubileus, bodas múltiplas e aqui estamos.
O Zé Pereira,
com a sua mesma magia, com os seus bonecos, seus tambores, seus clarins, talvez
nos falte as lanternas…
Mas lá
está ele, em janeiro, fevereiro, ladeira acima, ladeira abaixo. O boneco que um
dia me assustou, hoje assusta meu filho. Assusta e encanta. Atiça e conquista.
Afasta e aproxima. Sua batida hipnotiza.
Desse
sincretismo, dessa paradoxal resposta anímica, surge a figura de Zé. Nossa
Glória Maior Carnavalesca da fonte momesca.
Zé, mais
um Zé. Mas esse não seria ninguém sem a sua baiana, sem o Benedito e sem
tantos outros bonecos que virão. Mas, também sou obrigado a
reconhecer, Zé não seria Pereira sem o Cariá. O capeta que
afasta, que assusta, que encanta a multidão. Com seus chifres, seu rabo, seu
garfo a lamber fogo no chão.
O Cariá
que vivi, o Cariá que foi o meu carnaval, é o Cariá Roque. Roque e seu estado
temperamental, temperou o carnaval de gerações. Hoje ele segue mais tímido,
levando o estandarte da agremiação depois de animar e guardar
o Zé Pereira com seu garfo por 65 anos. Roque é o maioral da
tradição. A lembrança viva do Zé Pereira.
Roque das
Cabeças agitando Antônio Dias. Roque dos mistérios, Roque da Magia. Roque que
quando foi cariá pela primeira vez o Zé Pereira tinha apenas 85
anos de tradição, hoje 150.
Ou seja,
o meu Zé Pereira não existe sem o Roque. Aos que chegam segue o
exemplo, aos que sempre zelaram por essa tradição o nosso reconhecimento. Salve
seu Dodo e família e todos os demais. Aos que não deixam a peteca cair segue o
nosso abraço. Salve Arthur jovem apaixonado.
Que a
imagem do encontro seja a certeza da continuidade.
Pausa.
Enquanto
escrevo escuto um bloco se aproximar esquentando os tambores lembrando o ritmo
do Zé Pereira.
Que essa
magia sesquicentenária seja a nossa guia nos próximos 150 anos.
Que pena,
lá não estarei, mas de onde estiver, quero ouvir os meus netos e bisnetos a
gritar:
Tum Tum
Tum – Zé Pereira
Tum Tum
Tum Tum – Zé Pereira