sexta-feira, 24 de março de 2017

Tum tum tum: Zé Pereira - Olha o Roque. Cariá!!!!


No ano em que celebramos os 150 anos do Zé Pereira, a agremiação mais antiga do país em atividade, o boneco e seus tambores voltam às ruas trazendo o encanto, a beleza, os sonhos daqueles que não desistem nunca de brincar.
Ao perceber as portas da Rua Santa Efigênia se abrirem, dezenas de meninos e meninas já sabem:
- Hoje tem Zé Pereira? Tem sim senhor.
As famílias correm ao Largo de Marília, os meninos e suas latas velhas tocam o som estampido na memória. Começam a se desdobrar movimentos inspirados no velho Zé.
- Que Bloco é esse? Pergunta o turista aprendiz.
- Bloco não meu senhor – responde um senhor da janela - é o Club dos Lacaios…
Isso mesmo Club, numa influencia talvez dos Clubs da segunda metade do século XIX que apareciam para ser local de encontros das famílias abastadas dos Estados Unidos e da Europa.
Mas foi às avessas desse ambiente que os funcionários rasos do Palácio do Governador se organizaram, ou melhor, se ressignificaram para celebrar o carnaval. Uma ressignificação dos Lacaios.
Daí se passaram anos, décadas, jubileus, bodas múltiplas e aqui estamos.
O Zé Pereira, com a sua mesma magia, com os seus bonecos, seus tambores, seus clarins, talvez nos falte as lanternas…
Mas lá está ele, em janeiro, fevereiro, ladeira acima, ladeira abaixo. O boneco que um dia me assustou, hoje assusta meu filho. Assusta e encanta. Atiça e conquista. Afasta e aproxima. Sua batida hipnotiza.
Desse sincretismo, dessa paradoxal resposta anímica, surge a figura de Zé. Nossa Glória Maior Carnavalesca da fonte momesca.
Zé, mais um Zé. Mas esse não seria ninguém sem a sua baiana, sem o Benedito e sem tantos outros bonecos que virão. Mas, também sou obrigado a reconhecer, Zé não seria Pereira sem o Cariá. O capeta que afasta, que assusta, que encanta a multidão. Com seus chifres, seu rabo, seu garfo a lamber fogo no chão.
O Cariá que vivi, o Cariá que foi o meu carnaval, é o Cariá Roque. Roque e seu estado temperamental, temperou o carnaval de gerações. Hoje ele segue mais tímido, levando o estandarte da agremiação depois de animar e guardar o Zé Pereira com seu garfo por 65 anos. Roque é o maioral da tradição. A lembrança viva do Zé Pereira.
Roque das Cabeças agitando Antônio Dias. Roque dos mistérios, Roque da Magia. Roque que quando foi cariá pela primeira vez o Zé Pereira tinha apenas 85 anos de tradição, hoje 150.
Ou seja, o meu Zé Pereira não existe sem o Roque. Aos que chegam segue o exemplo, aos que sempre zelaram por essa tradição o nosso reconhecimento. Salve seu Dodo e família e todos os demais. Aos que não deixam a peteca cair segue o nosso abraço. Salve Arthur jovem apaixonado.
Que a imagem do encontro seja a certeza da continuidade.

Pausa.

Enquanto escrevo escuto um bloco se aproximar esquentando os tambores lembrando o ritmo do Zé Pereira.
Que essa magia sesquicentenária seja a nossa guia nos próximos 150 anos.
Que pena, lá não estarei, mas de onde estiver, quero ouvir os meus netos e bisnetos a gritar:
Tum Tum Tum – Zé Pereira
Tum Tum Tum Tum – Zé Pereira

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