[...] Porque desde que
a gente entende por gente, vê tocar o sino, aí a gente já fica assim: “Está
tocando por que?” Toca para uma procissão, toca para um enterro, toca para uma
missa. O sino é importante. Para quem é católico o sino é importante, porque
está anunciando que está acontecendo alguma coisa. (Efigênia
Ferreira/2004)
A linguagem dos Sinos de Minas Gerais, hoje registrada como Patrimônio
Cultural Imaterial Brasileiro pelo IPHAN, deve, e muito, ao fomento da
oralidade perpetuada pelas mãos afrodescendentes desde as Minas oitocentista. Curt Lange em seu livro: Os Irmãos Músicos da
Irmandade de São José dos Homens Pardos de Vila Rica, não deixou de citar o
tema no capítulo História da ereção e
desenvolvimento da Irmandade de São José. A sua atividade:
A
fundição de sinos e o seu içamento também pertencem À história da Música
brasileira, e particularmente À das Minas Gerais, outrora região muito perigosa
que cerceou milhares de vidas. Naqueles longínquos anos, dos toques das horas
Às chamadas para as Missas, Novenas e grandes solenidades religiosas, dos
anúncios de morte de um soberano aos toques de fogo ou finados, os sons, ora
alegres, ora lúgubres, interferiram com a sua amálgama de vibrações bronzíneas
como significativa linguagem na existência dos homens. [1]
Ora, se “a fundição de sinos e o seu içamento fazem parte da história da
Música Brasileira e particularmente à das Minas Gerais”, como disse o grande
pesquisador LANGE, não faria parte também desta História os sineiros, que
seriam os indivíduos que perpetuaram esta prática ao longo de séculos?
Mas quem
seriam estes indivíduos? Quem seriam estes sineiros? Estas pessoas que fabricam
e dominam códigos emanados das torres convidando os fiéis às atividades
religiosas?
Ora, se os sinos de Minas e suas toneladas eram considerados uma
atividade braçal, a quem estaria relegada tal atividade?
Sabemos que como toda
atividade braçal, esta também estaria relegada aos escravos. Estes, assumiam então o ofício de comunicar pelos sinos da igreja. Era parte de suas tarefas: anunciar a vida, a festa, a morte e
os ritos católicos. Tarefas funcionais de uma igreja que trazia o
sino como potencialidade reverberante. Contudo, estes traços sonoros advindos das torres sineiras tinham
nuances muito mais ritmadas que os sons cristãos do continente europeu. E
assim, as igrejas de Minas tiveram nas referências tribais africanas os
principais códigos para que se convidasse os fiéis para os atos de fé. Fé emanada
pelo metal percutido. Percussão executada por mãos que transcendiam a fé
europeia, mas que, por outro lado, comungavam com o Divino. E assim, seja na
alegria, na dor, no nascimento, no matrimônio, nas procissões ou na morte, os
sinos de Minas dobravam e/ou repicavam com sotaques afrodescendentes. Essa
prática, mantida viva através da oralidade, ainda avisa a cidade,
rotineiramente, acontecimentos religiosos. Para uns repiques excessivos, para
outros sons da memória, para tantos a certeza que das torres sineiras, da
sempre Vila Rica, emanam sons que sabem aonde querem chegar. Sons que comungam
diásporas africanas permeadas de signos: Sino