sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Água - até quando irão continuar culpando a seca, a natureza, São Pedro?


 
A natureza nos brindou com a chuva esperada e desejada. E elas continuarão, mesmo em face do aquecimento global que assola o planeta. E isso não é novidade, não é mesmo? Há quanto tempo ouvimos falar nesse termo, aquecimento global? Da mesma forma, há tempos, ouvimos falar que a água é um bem econômico, FINITO e limitado. No entanto, essas afirmações eram apenas papo de ambientalista, dos "naturebas", etc. Mas essa Primavera/Verão mostrou-nos o outro lado. As pessoas não mais ouviram falar e sim sentiram na pele. Literalmente. Sentiram as altas temperaturas, sentiram a falta de chuva, sentiram a falta de água, sentiram os ânimos exaltados. Contudo, poucos foram os que refletiram sobre a necessidade de uma melhor gestão para enfrentar a crise hídrica que vivemos. Aqui em Ouro Preto, por exemplo, se formos comparar os investimentos feitos na área de saneamento básico (água, lixo, esgoto, drenagem) vamos ver que esse investimento não é uma prioridade governamental. Gastou-se muito mais com asfalto, com transporte, com a indevida coleta e destinação do lixo. Noutro ponto, percebemos que é comum aos governantes atuais criticarem os governos passados. Assim, se investe não em ações imediatas, mas num conjunto de desculpas que muito mal tem feito às nossas cidades.
Diante disso podemos dizer que não existe uma gestão eficiente dos recursos hídricos na cidade. Eis alguns pontos:


  • Todos se preocupam apenas em viabilizar o uso da água de maneira imediata.

  • Grande parte da água enviada às residências se perde no trajeto. E o motivo nós sabemos: reservatórios d’água trincados, canos furados, vazamentos e falta de manutenção.

  • Construções desenfreadas sem uma efetiva fiscalização e sem o devido cumprimento da lei de uso e ocupação do solo contribuem  para, cada vez mais, áreas impermeáveis.

  • O processo do asfalto a todo custo e da falta de vegetação está impedindo que a água da chuva se infiltre no solo. Com isso, os lençóis freáticos não abastecem as nascentes dos rios.

  • Os rios e córregos estão se transformando em rios de esgoto, com isso se torna impossível a captação de água. E no calor, a presença de insetos de toda espécie torna a vida de muitas pessoas insuportável.
  • Há incentivos para que as pessoas que constroem em distritos e loteamentos instalem fossas sépticas, no entanto as mesmas transbordam por falta de atendimento do município.
  • Recursos hídricos como as cachoeiras em que se transformam as serras em épocas de chuvas fortes, sequer são aproveitados. Basta olhar para a serra do Veloso, das Lajes, do Morro da queimada, etc.
  • A política de captação de água de chuva é quase nula na cidade. Não há grandes incentivos, tão pouco uma sensibilização para que as pessoas ajam nessa direção.
  • Decretos coibindo e multando GASTADORES de água não existem. E olha que pedidos formais já foram feitos ao prefeito. As pessoas ainda continuam lavando carros, calçadas, ruas e terreiros à revelia.
  • Nas serras ainda é comum a presença de depósitos de lixo (resíduos de todas as espécies) contaminando áreas de vegetação, minas, sarilhos e até nascentes.
  • Cobra-se uma postura de redução do uso de água pelas famílias, mas não existe uma pressão política para que o Estado reveja as outorgas das indústrias que utilizam a água do subsolo em grande quantidade.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  
  • Os poços artesianos não são pensados como reserva estratégica, mas longe de uma eficaz fiscalização se transformaram em via de regra. Embora devessem ser para situações excepcionais. E é bom dizer que se há anos atrás se cavava cerca de 15 metros e se encontrava água, atualmente é preciso chegar a 60 metros de profundidade.

Por fim é importante dizer que precisamos de uma cobrança efetiva da sociedade. Somos uma cidade rica em água, ou seja, temos recursos hídricos, mas precisamos de uma gestão eficiente desses recursos. Não dá mais para ficar culpando gestões passadas e não agir. Não dá mais para se ter milhões e não gastar nos lugares fundamentais. Pagamos cerca de meio milhão de reais por ano para utilizarmos as bacias do Rio das Velhas e do Rio Doce, mas, ao mesmo tempo, mandamos todo o nosso esgoto para essas mesmas bacias hidrográficas. Ou seja, jogamos “merda” no nosso tesouro. E aqui indico que se 75% da água do Rio São Francisco está em  Minas Gerais, um de seus principais afluentes é o Rio das Velhas. Rio que nasce em Ouro Preto, na Cachoeira das Andorinhas, e infelizmente, já se vê contaminado no primeiro momento.  
Espero que esse verão, que ardeu na pele seca, possa servir como referência para uma mudança de atitude geral. Espero também que não passemos pelos mesmos problemas daqui a alguns meses.
Que venham as Águas e que saibamos geri-la!!!!

2 comentários:

  1. Gostei Chiquinho de sua intervenção. Parabéns. Conto com você.

    ResponderExcluir
  2. Bela reflexão! Gostei muito do texto consistente e crítico...Precisamos agora proibir os taxistas que operam em frente à rodoviária, de ficarem o dia inteiro lavando seus automóveis sem nenhum ônus!!! Multa neles!!!

    ResponderExcluir